Segue a íntegra da entrevista:
No IFF, pelo direito de participar
Com 20 anos, no quarto módulo do curso técnico de Telecomunicações, o presidente do grêmio estudantil do campus Campos-Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF, antigo Cefet), Rafhael Victor Fernandes, solicitou em ofício, no dia 28 de janeiro, o direito de participar da elaboração do novo estatuto da escola, aberta desde 29 de dezembro de 2008 pela lei federal 11.892, que transformou todos os Cefet’s do país em IF’s. O convite da reitoria para participar da discussão, com prazo final em 29 de junho, só chegou no dia 22 de abril, quase três meses depois. Para ele, isso evidencia a intenção inicial de não se fazer a eleição do diretor do campus, que o MEC definiu, no máximo, até novembro deste ano.
Folha da Manhã - Essa polêmica em torno da passagem do Cefet-Campos para IFF, com tentativa de adiamento das eleições dos diretores dos campi (antigas unidades) Campos-Centro e Macaé, veio a público a partir da publicação, na Folha, da entrevista do professor Luiz Augusto Caldas, em 26 de abril. Mas para vocês, que vivem a realidade interna da escola, quando e como ela, de fato, começou?
Rafhael Fernandes - Essa polêmica começou a partir do momento que o professor Jefferson (Azevedo) pediu exoneração do seu cargo (de pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação) e afirmou para a comunidade, em carta aberta, que ele pediu essa exoneração porque a reitoria, na reunião de 30 de março, queria adiar a eleição (de diretor do campus Campos-Centro) por três anos...
Folha - O que casaria a eleição do diretor com a eleição...
Rafhael - Para casar com a eleição da reitora (em 2011). E, a partir daí, surgiram várias indagações dos estudantes e professores, do porque isso aconteceu. O Jefferson é um homem de uma integridade ímpar, todo mundo conhece seu trabalho, mesmo fora do IFF; é considerado uma pessoa exemplar, por todos que o conhecem, tanto na parte pessoal quanto profissional. Para ele ter pedido a exoneração do seu cargo, algum motivo tem.
Folha - Mas o que Jefferson denunciou em 30 de março já não havia se anunciado antes, quando o grupo que controla a reitoria adiou as eleição no campus Macaé, que deveria ter ocorrido desde julho de 2008. A própria lei federal 11.892, que transformou os 38 Cefet’s do país em IF’s, é de 29 de dezembro de 2008. Desde então não poderia ter se iniciado a discussão do estatuto e do Plano de Desenvolvimento Interno (PDI), sem os quais não se faz eleição? Não seria melhor ter aproveitado o tempo do que agora correr contra o relógio, para concluir o estatuto e o PDI até o próximo dia 29 de junho, como manda a lei?
Rafhael - Desde 28 de janeiro de 2009 nós requeremos a participação dos representantes do grêmio estudantil na discussão (entrega cópia do ofício 017/2009, datado de 28 de janeiro, assinado por ele e encaminhado à reitora Cibele Daher). Como representante eleito dos estudantes do campus Campos-Centro, eu me senti na obrigação de participar desse movimento, dessa construção do estatuto. Para mim, isso é que é democracia: você poder opinar, poder participar. Um mês após o grêmio estudantil ser empossado...
Folha - Empossado quando?
Rafhael - Se não me engano foi dia 27 de dezembro. Não me lembro a data certa...
Folha - Um pouco antes da publicação da lei 11.892?
Rafhael - Um pouquinho antes da lei. E a gente começou a estudar, ver os processos necessários para eleger o diretor de Campos e vimos a necessidade de se ter o estatuto e o PDI. Então a gente pediu para participar, porque nós somos a voz dos estudantes, porque nós somos o grêmio estudantil.
Folha - Então vocês estudaram a lei e esperaram um mês para o convite da reitoria ser feito?
Rafhel - E como nada foi feito, em 28 de janeiro nós resolvemos cobrar nosso direito de participar.
Folha - E o que aconteceu?
Rafhael - A reitoria ficou muda, fingiu que não ouviu a gente.
Folha - E quando foi curada dessa mudez e dessa surdez?
Rafhael - No dia 22 de abril de 2009, quando a gente recebeu um ofício (entrega a cópia do documento), assinado pela Cibele, pela reitora, solicitando um representante do grêmio e um suplente para participar da discussão do estatuto.
Folha - Quase quatro meses após a lei abrir o prazo à discussão e quase três meses após vocês requerem, em ofício, o direito de participar?
Rafhael - Exatamente. Eu vejo que lá (no IFF), nunca teve essa cultura de um grêmio participar na vida política da escola. Muitos talvez pensem que um grêmio estudantil é sinônimo de festa, de farra, de zoeira. Mas nosso grêmio é um grêmio político, é um grêmio combativo, que quer participar de todas as discussões necessárias ao exercício do direito de votarmos para escolher nossos dirigentes. Nossa bandeira de luta é participar de todas as coisas inerentes à vida dos estudantes na instituição, não é só fazer festa, fazer arraiá, não. Talvez a escola tenha pensado que foi brincadeira o ofício que eu enviei (em 28 de janeiro); mas não, é caso sério. É tão sério que foi estipulado no ofício (da reitora, convidando à discussão do estatuto, só no dia 22 de abril) que até o dia 8 de maio nós tínhamos que enviar os nomes (para a comissão de discussão do estatuto). No dia 6 estavam os nomes lá: o meu, Raphael Victor, como presidente, e o do diretor de mídia do grêmio, Eric Moreira, que é o suplente.
Folha - Entre o seu ofício, solicitando participar da discussão do estatuto, e o da reitoria, fazendo o convite quase três meses depois, vocês também fizeram protestos nano IFF, não foi?
Rafhael - Sem resposta da reitoria, nós começamos uma campanha na escola, para exigir as eleições, desde o dia 7 de abril. Colocamos faixas lá.
Folha - Sim. Na verdade, foi através das fotos das faixas de protesto, que vocês, do grêmio estudantil, enviaram pela internet, que a Folha ficou sabendo do caso. Mas, quanto a essas faixas colocadas no IFF, "Abaixo a ditadura!" não é uma crítica muito forte ao grupo da reitoria?
Rafhael - Ditadura não é só você impor uma coisa. Para mim, ditadura é você restringir qualquer coisa, você tirar espaço de participação.
Folha - Você negar direito a voz?
Rafhael - Exatamente, negar direito a voz.
Folha - E vocês, estudantes, entendem que isso foi negado?
Rafhael - Bem, se eu, como representante eleito dos estudantes, da classe estudantil, do ensino médio e técnico do Instituto, a gente não participar de um processo fundamental, como a Cibele diz que é fundamental o estatuto, e não ser respondido, acho que isso é, sim, falta de voz.
Folha - Mas vocês não são os únicos representantes dos estudantes. Como você mesmo disse, o grêmio estudantil Nilo Peçanha representa só o ensino médio e técnico do campus Campos-Centro. Mas há lá também o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que representa os estudantes do ensino superior.
Rafhael - Sim, mas maioria dos estudantes é do técnico e médio. O presidente do DCE é o Marcel Cardoso (estudante do curso superior de Geografia), que fala tanto de democracia, que a democracia é construída no dia-a-dia, com o diálogo, e ele foi indicado a participar do conselho diretor, por portaria. Ele disse que foi indicado por Luiz Augusto (Caldas), com o nome dele aprovado em Brasília, mas eu não acho isso democrático, você indicar o nome de um representante, sem eleição. Legal, ele poderia ser, só que na época eu também fazia o curso superior de Geografia no IFF (que deixou para fazer o curso técnico de Telecomunicações), e eu não lembro de ter votado no Marcel, não. Ele foi eleito no DCE. Para o conselho diretor, ele foi indicado por portaria.
Folha - Pelo que você fala, parece haver uma divisão política entre os estudantes, com o DCE, sob comando do Marcel, mais ligado à reitoria. Na sua visão, seria isso?
Rafhael - Com certeza. Não tem dúvida de se falar isso. Porque se você está no IFF, você vê o Marcel enfurnado na reitoria, usando o computador da direção, telefonando direito. A gente começou a fazer um protesto, lá, pela área do micródromo, que é a sala onde ficam os computadores, que ao meu ver, e aos olhos de todos os estudantes, estavam obsoletos; computadores antigos, internet lenta, teclado duro, que agarra, mouse de bolinha ainda, sem dado para USB, cinco folhas semanais para imprimir. Então, numa escola que é de educação tecnológica, computadores obsoletos para o uso dos alunos, eu acho algo contraditório. Nós víamos a necessidade de um novo micródromo, com novos computadores, nova tecnologia. O grêmio estudantil começou a fazer um abaixo assinado e, em dois dias, conseguimos reunir 600 assinaturas. Aí, eu pensei assim: o DCE representa o ensino superior, mas, lá, o micródromo é para todo mundo, para técnico, para médio e superior. Então fiz um ofício e chamei o Marcel, e ele se recusou a participar do movimento. Aí, eu pensei: tem rabo preso.
Folha - Você diz que Marcel é ligado ao grupo da reitoria. E você, está ligado a algum dos grupos que, a partir da dissidência de Jefferson, polarizam a política interna do IFF, de maneira muito semelhante à história política recente do próprio município de Campos?
Rafhael - O único grupo a que eu pertenço é a UJS, que é a União da Juventude Socialista. Sou diretor municipal do UJS. Como todo grupo tem coisas boas e ruins, eu procuro tirar as coisas boas e levar para o IFF.
Folha - O UJS não apoiou Rosinha na última eleição para prefeito?
Rafhael - Sim, apoiou a prefeita Rosinha. Nessa época, eu tinha pedido afastamento, porque não concordava. Depois, eu voltei e fui eleito diretor do UJS.
Folha - Sim, mas voltando à política interna do IFF, quem vê de fora pode identificar três grupos: o grupo da reitoria (que está no poder desde de 94, caiu no ostracismo no segundo mandato do Luiz Augusto e voltou a dar as cartas com Cibele), o grupo do Paulo Caxinguelê, que sempre foi de oposição, e o do Jefferson, criado a partir da dissidência dele e de vários outros nomes importantes. Você ou o grêmio estão ligados a algum desses grupos?
Rafhael - Posso falar um negócio com você, aqui? O único grupo que eu pertenço é dos estudantes. Não tenho nenhum contato político com Cibele, Roberto José (diretor pro tempore do campus Campos-Centro, indicado por Cibele), com Jefferson. Adoro o Jefferson, foi triste ver ele saindo como saiu. Mas mais triste ainda foi o pedido de exoneração do professor Amaro Falquer (ex-pró-reitor de Administração e Planejamento). Vi estudantes chorarem na escola, porque ele e o Jefferson eram aqueles professores que iam além da sala de aula; conversavam com a gente sobre a nossa vida. Adoro também o Caxinguelê, o Roberto José. Eu votei e fiz campanha para Cibele, que foi eleita diretora geral (feita reitora a partir da lei 11.892) com o Jefferson como seu vice. Fiquei até o último minuto de apuração, na quadra. Tenho foto disso. Tenho camisa, tenho boné, tenho bandana, tenho tudo. A questão aqui não é pessoal, é democracia, entendeu? Que o Roberto José possa ser diretor, mas que possa ser eleito, que eu possa votar nele. Eu não votei nele.
Folha - Sim, mas é um direito de Cibele indicar o diretor pro tempore durante os 180 dias de discussão do estatuto e do PDI.
Rafhael - Sei, direito dela indicar, mas, veja bem, se ela mesmo fala, se a lei fala que tem que ter estatuto, eu sempre bato nessa tecla: por que não chamou o grêmio para participar? Queria saber por que ela não chamou.
Folha - Mas ela não chamou?
Rafhael - Chamou três meses depois. Então, alguma coisa tem. Se você tem idéia de fazer uma eleição tal dia, tal data estipulada, e você não começa a movimentar, a mobilizar a classe estudantil; a comunidade acadêmica não vê essa transição, essa idéia de ter eleição, automaticamente vai se entender o quê? Que você não quer fazer eleição.
Folha - Mas vai haver eleição, no máximo até novembro de 2009, como a secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) definiu no ofício 780-A, de 18 de maio, que a Folha noticiou, com exclusividade, no dia 26. Aliás, a reitoria não divulgou isso na escola?
Rafhael - Eu não vi, nem pendurado no mural de avisos, nem foi encaminhado ao grêmio.
Folha - Estranho, pois segundo informação do Setec, o ofício teria sido encaminhado ao IFF, no máximo, no dia 19.
Rafhael - Eu, sinceramente não vi, nem soube. Mas eu sempre tive certeza de que haveria eleição. Eu não sou contra ninguém, sou a favor dos estudantes. Pode ser Roberto José o diretor, pode ser Jefferson, mas que eu possa votar neles, que eu e os estudantes possamos participar da eleição e votar.
Fonte: Jornal Folha da Manhã (31/05/2009)
2 comentários:
Não concordo com isto aí. Sei muito bem o que existe por trás deste tipo de manifestação. E é com tanta má fé com tanta vontade de ver o próprio querer acima da Instituição que este representante vem a público fazer isso. Tenho certeza que esta Cibelle já imaginava o tipo de caráter que se escondia por trás de uma até legítima representação estudantil. Tenho mis exemplos deste tipo. Sabe, Jéssica, vindo da FAlha da Manhã isto não me surprende. Este povo não quer ver Campos brilhar. Não quer ir por caminhos de diálogos e sim da contenda e de colocar uma população contra os bons. Só isso que penso. Se isso é verdade gostaria de saber dos veteranos, e não dos que estão com o emocional dentro da situação.
Isto é muito triste. Mas IFF vai avançar! E que Cibele tenha forças do Alto, de Jesus o Príncipe da Paz para avançar e não sucumbir diante desta falta de consideração e manipulação de Jezabel.
Estou triste e gostaria que você postasse esse meu comentário, por favor.
Rosângela, enquanto Débora.
Dábora Rosângela, respeito sua posição e agradeço as visitas as palavras de estímulo.
Mas, não concordo com vc. Estou do lado de cá como aluna, e vejo o que tem acontecido dentro da instituíção, 6 membros da direção da UJS são alunos de lá e tb sabem extamente o que está acontecendo e é assim que nos posicionamos.
Reclamavamos do micródromo, sabe o que fizeram? trocaram todas as telas. Mas do que adianta tela lcd se as máquinas são obsoletas? o teclado é uma bosta pra vc escrever tem quase que dar um soco, e a configuração dos pcs são do século passado, nem usar um pen drive conseguimos. Eu fui lá como aluna usar essa semana. Ai te pergunto? é esse IFF que queremos? É claro que não. Será que nossos 6 diretores e alunos do IFF tb não estao vendo nada?
Queremos o melhor para o IFF seja quem for, mas desde que seja eleito como coloquei sempre que participei de comentários em qq blog. Não escondo minha simpatia nem amizade pelo Jefferson, se ele vier como candidato pode ter certeza que estarei na campanha das 6 da manha as 22hs para ajudar a conquistar votos para ele. Pelo menos estarei ajudando a uma pessoa de escrupulos, que não mente e é sincera, sua idoneidade salta a olhos vistos... muito diferente de outras pessoas que se dizem democráticas... mas td que querem é perpetuar no poder.
A posição da UJS sempre foi e será a luta por um futuro melhor para a juventude de Campos, pelos estudantes. É só olhar para a nossa história, luta pelo passe-livre, meia-entrada, primeiro-emprego. E seguiremos em frente em busca de um IFF melhor para os estudantes e em busca de uma Campos melhor para nossa juventude.
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