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30 de abr. de 2009

Memória estudantil : O 1º de Maio de 1934

No dia primeiro de maio de 1934, foi organizado um grande comício na cidade de Campos dos Goytacazes, por ocasião do dia do trabalhador. A expectativa era de que dez mil trabalhadores compareceriam ao evento.

Os jornais contrários a tal evento, relatam que na concentração da passeata, o clima já era tenso, devido à presença de comunistas, que se aproveitavam do evento para pregar suas idéias.
No meio da confusão do comício, a Bandeira Nacional apareceu rasgada, o que fez aumentar o tumulto.

Todos os relatos da imprensa contrária aos comunistas tomaram esse episódio como uma afronta ao forte sentimento patriótico existente. O comício teve fim quando Clóvis Tavares, na época representante do Sindicato dos Estudantes inicia seu discurso, que não seria nunca concluído; devido à chegada da polícia e o surgimento de novos conflitos entre os presentes.

No dia seguinte todos os jornais citam o comício como antipatrióta.
Clóvis Tavares chega a ser preso com outros trabalhadores, acusado de estar envolvido no episódio do ultraje a Bandeira Nacional.

Dois dias depois foi organizada pela Federação dos Estudantes de Campos, tendo em José Carlos Tinoco seu líder, uma grande passeata contra o ultraje sofrido pelo Pavilhão Nacional:

" ... Á comissão de estudantes sob o patrocínio da FEC, lança um veemente protesto contra o ultraje sofrido anteontem pelo Pavilhão Nacional em plena praça pública [...] e convida a todos para uma parada cívica..." Jornal "Monitor Campista" 5/5/1934.

O evento organizado pela Federação dos Estudantes de Campos, conta com a presença do prefeito, juízes de direito, e professores como Jaime Landim. A Associação dos Empregados no Comércio e a Associação Comercial resolvem fechar o comércio mais cedo afim de que todos participassem do evento.

A manifestação se encerra com um comício, da sacada da prefeitura onde discursaram intelectuais, que em sua maioria tinham ligações fortes com a doutrina integralista e viam o comunismo como o "grande perigo a ser combatido".

A figura de Clóvis Tavares e Nina Arueira passa a ser vinculada ao comunismo, o que faz com que eles sejam vistos como ameaças e sejam perseguidos.

Diante desse evento, a Federação, acaba suprimindo como legal o Sindicato que até então funcionava na semi-clandestinidade, encerrando suas atividades.

A Federação assumi o status de entidade representativa dos estudantes campistas, como projeto político oficial, o que significava o apoio e a crítica favorável da classe estudantil e o aval da sociedade.

Fruto desse movimento de desagravo a bandeira nacional, os estudantes organizados em assembléia resolveram escolher o dia 19 de novembro, dia da bandeira, para ser o dia do estudante campista. E o jornal Monitor Campista (5/5/1934), também anunciava a vasta programação para a primeira comemoração da data, com bondes especiais saindo do Liceu, inauguração do Café do estudante e apresentação de peça teatral criada e apresentada por estudantes no antigo Trianon.
* Foto do livro de Juliana Carneiro sobre Nina Arueira.
* Este texto faz parte do primeiro capítulo do livro inacabado da blogueira sobre a "Memória do Movimento estudantil de Campos dos Gytacazes"... Um dia eu acabo, um dia eu publico...
Comantário da blogueira: Tenho saudade de um tempo que não vivi...

18 de abr. de 2009

Representatividade e criação de entidades estudantís


Fico impressionada de ver como entidades estudantís são criadas sem nenhuma representatividade. Na minha opinião a criação de uma entidade deve-se realizar no mínimo um congresso estudantil. Não uma reunião de grêmios ou dce’s e pronto está decidido e distribuído os cargos! Coisas assim não tem legitimidade nenhuma!

Desde 2002 venho pesquisando a memória do movimento estudantil de Campos e fiquei impressionada quando descobri que na década de 1950 as eleições para a Federação dos Estudantes de Campos eram diretas, havia campanha em escolas, por toda a cidade! Em entrevista Rockfeller Felisberto de Lima, que foi candidato a presidente da Federação dos Estudantes de Campos (e também ex-prefeito de Campos) e José Maurício Linhares Barreto que foi presidente da FEC (e também diversas vezes deputado) disseram que aprenderam quase tudo sobre campanhas, política e eleições na Federação dos Estudantes de Campos. Outra coisa interessante haviam partidos estudantis! União da Juventude Democrática, Legião dos Estudantes de Campos e vários outros... A FEC contava com uma estrutura invejável, até para os dias de hoje, eles tinham um programa de rádio e um jornal intitulados “Voz Estudantina”.

Era uma coisa incrível! Nem preciso dizer o quanto sou apaixonada por história e por movimento estudantil! Na verdade o movimento estudantil entrou na minha vida quando eu ainda era aluna da Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins, eu cursava administração e nós nem tínhamos laboratório, e até hoje não existe para o curso que fiz. Mas em 2001 nós fomos as ruas ao som de “Até quando a gente vai levando porrada, porrada / Até quando vai ficar sem fazer nada” e fizemos uma passeata até a praça São Salvador pedindo ao Estado melhorias para a nossa escola e na mesma semana chegaram 40 computadores para a escola. Naquele mesmo ano participei do congresso da FEC e fiz parte da chapa eleita, era diretora do departamento de escolas públicas, mas na FEC fiquei pouco tempo. Porque eu tinha muitas idéias e a cabeça do povo não acompanhava. Cheguei a conclusão naquela época que descobrindo o que a entidade tinha sido poderia colaborar mais e foi assim com essa pesquisa que ganhei uma bolsa de estudos e fiz a faculdade de história.

Agora que o roteiro já está praticamente pronto vou poder efetivamente dar a minha contribuição: o documentário que poderá mostrar para muitos estudantes e para as pessoas da minha cidade o que verdadeiramente foi o movimento estudantil no período de 1933-1964. Este é um sonho que finalmente está saindo da gaveta! Quem sabe as pessoas não aprendam que para ter legitimidade é preciso o máximo de representatividade, democracia e participação! Afinal movimento estudantil como muitos ex-presidentes da FEC disseram, é uma escola de lideranças, de cidadania...

*FOTOS DE ARQUIVO DA BLOGUEIRA