No dia primeiro de maio de 1934, foi organizado um grande comício na cidade de Campos dos Goytacazes, por ocasião do dia do trabalhador. A expectativa era de que dez mil trabalhadores compareceriam ao evento.
Os jornais contrários a tal evento, relatam que na concentração da passeata, o clima já era tenso, devido à presença de comunistas, que se aproveitavam do evento para pregar suas idéias.
No meio da confusão do comício, a Bandeira Nacional apareceu rasgada, o que fez aumentar o tumulto.
Todos os relatos da imprensa contrária aos comunistas tomaram esse episódio como uma afronta ao forte sentimento patriótico existente. O comício teve fim quando Clóvis Tavares, na época representante do Sindicato dos Estudantes inicia seu discurso, que não seria nunca concluído; devido à chegada da polícia e o surgimento de novos conflitos entre os presentes.
No dia seguinte todos os jornais citam o comício como antipatrióta.
Clóvis Tavares chega a ser preso com outros trabalhadores, acusado de estar envolvido no episódio do ultraje a Bandeira Nacional.
Dois dias depois foi organizada pela Federação dos Estudantes de Campos, tendo em José Carlos Tinoco seu líder, uma grande passeata contra o ultraje sofrido pelo Pavilhão Nacional:
" ... Á comissão de estudantes sob o patrocínio da FEC, lança um veemente protesto contra o ultraje sofrido anteontem pelo Pavilhão Nacional em plena praça pública [...] e convida a todos para uma parada cívica..." Jornal "Monitor Campista" 5/5/1934.
O evento organizado pela Federação dos Estudantes de Campos, conta com a presença do prefeito, juízes de direito, e professores como Jaime Landim. A Associação dos Empregados no Comércio e a Associação Comercial resolvem fechar o comércio mais cedo afim de que todos participassem do evento.
A manifestação se encerra com um comício, da sacada da prefeitura onde discursaram intelectuais, que em sua maioria tinham ligações fortes com a doutrina integralista e viam o comunismo como o "grande perigo a ser combatido".
A figura de Clóvis Tavares e Nina Arueira passa a ser vinculada ao comunismo, o que faz com que eles sejam vistos como ameaças e sejam perseguidos.
Diante desse evento, a Federação, acaba suprimindo como legal o Sindicato que até então funcionava na semi-clandestinidade, encerrando suas atividades.
A Federação assumi o status de entidade representativa dos estudantes campistas, como projeto político oficial, o que significava o apoio e a crítica favorável da classe estudantil e o aval da sociedade.
Fruto desse movimento de desagravo a bandeira nacional, os estudantes organizados em assembléia resolveram escolher o dia 19 de novembro, dia da bandeira, para ser o dia do estudante campista. E o jornal Monitor Campista (5/5/1934), também anunciava a vasta programação para a primeira comemoração da data, com bondes especiais saindo do Liceu, inauguração do Café do estudante e apresentação de peça teatral criada e apresentada por estudantes no antigo Trianon.
* Foto do livro de Juliana Carneiro sobre Nina Arueira.
* Este texto faz parte do primeiro capítulo do livro inacabado da blogueira sobre a "Memória do Movimento estudantil de Campos dos Gytacazes"... Um dia eu acabo, um dia eu publico...
Comantário da blogueira: Tenho saudade de um tempo que não vivi...