Em 3 de março deste ano, a violência mudou a história da família de Edson Rodrigues de Souza, conhecido como “Edinho”. Ele foi executado, aos 30 anos, com três tiros, em frente ao Fórum Maria Tereza Gusmão, área central de Campos. Já se passaram quatro meses e até o momento os autores do crime, apontados à época como dois homens, sendo um vestido com um macacão vermelho, numa motocicleta, não foram localizados. Somente no primeiro semestre deste ano, 105 homicídios foram registrados pelo 8° Batalhão de Polícia Militar (8° BPM), em Campos. O desafio das polícias Civil e Militar, desde 1° de julho, é reduzir o índice de criminalidade, inclusive homicídios, com o novo modelo de gestão de Segurança Pública do Estado, que determina meta para serem cumpridas com a união das polícias.
A morte de Edinho, assim como da maioria dos 105 homicídios registrados no município, ainda é um mistério para a família e para sociedade campista. “Sabemos que nada vai trazer a vida do meu irmão de volta, mas queremos que seja feita Justiça”, disse uma das quatro irmãs de Edson, que terá o nome preservado.
Com diversas fotografias do irmão, nas mãos, a jovem contou que tem medo e que a família não pretende morar em Campos por muito mais tempo. A morte de Edinho trouxe consequências negativas à vida da família. “Minha mãe e o pai dele estão doentes. Ele desenvolveu diabetes e ela não vive mais. Desde que meu irmão foi brutalmente assassinado, foi como se a liberdade e a tranquilidade da minha família tivessem acabado ali. Fomos perseguidos e ameaçados. Algumas pessoas que poderiam estar envolvidas na morte dele foram ouvidas pela polícia ,mas as provas colhidas até o momento, não foram suficientes para por os criminosos atrás das grades”, revelou a jovem, segurando uma foto manchada com lágrimas que rolavam naturalmente em sua face. À época, ela cursava faculdade e teve de trancar a matrícula.
— Tudo nos faz lembrar Edinho. Parece que, quanto mais o tempo passa, maior é a dor. É uma saudade sem fim. Hoje mesmo, quando um caminhão de combustível passou por mim, não consegui conter minha emoção —, disse a irmã da vítima, lembrando que antes de passar a fazer lotada, do Recanto das Palmeiras para o Centro, Edinho havia trabalhado para a prefeitura, sendo um dos demitidos durante determinação judicial e como motorista de caminhão de carga de combustível. Ele era o caçula de uma família de cinco irmãos. Foi casado duas vezes e deixou quatro filhos com idade entre 14 e um ano.
Para o comandante do 6° Comando de Policiamento de Área (6°CPA), coronel Gelesi Ribeiro Vieira, a união das polícias pode ser uma solução para reduzir o alto índice de criminalidade não só em Campos, mas no estado do Rio de Janeiro, tendo em vista que a atuação da polícia desde primeiro de julho está sendo na gestão de Regiões Integradas de Segurança Pública (RISPs).
INTEGRAÇÃO
Em número de sete, as RISPs têm por objetivo reduzir os índices de criminalidade através da integração e cooperação entre as polícias Civil e Militar. O 6° CPA, integra a 6ª RISPs, com o apoio do Departamento de Policiamento de Área (DPA), em Macaé. Os trabalhos serão desenvolvidos com o 8° BPM, dentro de suas Áreas Integradas de Seguranças (Asp), que compõem o batalhão e as delegacias de áreas.
Entre as metas previstas já para este ano, está a redução de 11,7% dos casos de homicídio doloso. Também terão de reduzir em 6,4% o roubo de veículos, atingindo o número máximo de 13.129 ocorrências no estado. Já com relação ao roubo de rua, a meta não é diminuir, mas reduzir o ritmo de crescimento de 11% do ano passado para 7,2% neste ano. Apesar de não haver metas para o latrocínio (ou seja, o roubo seguido de morte), este crime terá acompanhamento especial. —A partir de agora está regulamentada a forma de articulação através de um processo científico para redução da criminalidade. Estaremos trabalhando não só em cima dos dados estatísticos, mas estabelecendo parâmetros de ações operacionais para efetivar o controle e a redução de crimes de acordo com a incidência em determinada área, bairro e momento— explicou Gelesi.
—A metodologia nova vai nos permitir dar o remédio certo ao paciente certo. É tudo novo, mas vamos aprender trabalhando — ponderou o coronel, afirmando que segurança pública é dever do estado, porém responsabilidade de todos e está se tornando prática através de alguns eventos de mobilização social. De acordo com Gelesi, o tráfico de drogas ainda é a maior causa de morte dos jovens em Campos.
Além do modelo de gestão de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, também foi realizado no mês passado concurso público onde 1.500 vagas foram oferecidas para cargos na Polícia Militar. O Estado está substituindo os policiais militares prestadores de serviço no Presídio Carlos Tinoco da Fonseca por agentes penitenciários, o que possibilitará que esses militares voltem para o trabalho ostensivo.
O comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (8ªBPM), em Campos, Paulo César Vieira, explicou que já enviou um ofício para a diretoria geral da PM solicitando a relotação dos policiais que estão atuando no Presídio Carlos Tinoco para o 8ºBPM. “Desde que tomamos o conhecimento da substituição dos policiais por agentes penitenciários, cuidamos de informar a diretoria da necessidade de relotação desses profissionais aqui em nossa corporação. Eles saíram daqui e agora temos a chance de trazê-los de volta”, declarou Vieira, informando que ao todo 28 policiais estariam trabalhando nos presídios, incluído a custódia masculina e feminina.
Em Campos, o reforço não será somente para a PM, mas também à Polícia Civil, que está recebendo em 30 dias, 20 novos policiais para atender as delegacias, em especial a 134ª e a 146ª DP, além 12 novas viaturas, sendo que duas serão destinadas à perícia técnica.
Jovens realizam 1ª Conferência sobre Segurança.
O alto índice de violência em Campos tem mobilizado a sociedade. Depois de realizar uma passeata com jovens estudantes, em protesto pela falta de segurança e a morte de 62 jovens com idade entre 15 e 29 anos, a União da Juventude Socialista (UJS) realizou a 1ª Conferência Livre “Juventude e Segurança Pública”.
Na ocasião, estudantes secundaristas e universitários, autoridades policiais, e o vereador Antônio Marcos da Silva, o Papinha, debateram o assunto e discutiram alternativas para diminuir o índice de violência no município. Presidente do grêmio estudantil do Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert (Isepam), Saulo Maciel da Silva, 18 anos, atribuiu o envolvimento dos jovens à criminalidade devido à falta de oportunidade e emprego. “O jovem campista não tem o que fazer em Campos, falta emprego, lazer, o que faz com que muitos jovens busquem o caminho mais fácil que é a violência”, questionou Saulo.
De acordo com Papinha, a lei do primeiro emprego, que tem a indicação e aguarda aprovação do Poder Executivo, prevê reserva de 20 % das vagas de empregos para jovens com idade entre 16 e 29 anos, que ainda não tiveram carteira de trabalho assinada. “Estamos lutando para mudar a realidade do nosso município e acredito que isso será possível. As vagas serão de empresas financiadas pelo Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam)”, explicou.
monitorcampista.com.br
domingo, 5 de julho de 2009
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