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10 de mai. de 2009

Folha da Manhã entrevista Paulo Caxinguelê: Ele vê utilização do IFF


Um grupo que chegou ao poder, elegeu seus sucessores, mas após a cisão com um deles, acabou dando vida a outro grupo, na disputa pelo poder. Embora em Campos, não se está falando da Prefeitura, mas, depois desta, da instituição pública mais importante do município: o Instituto Federal Fluminense (IFF, antigo Cefet).

Na visão do presidente da seção local do Sindicato Nacional dos Servidores Federais (Sinasefe), Paulo Caxinguelê, o grupo que hoje controla a reitoria, subiu ao poder com a eleição do professor Roberto Moraes para diretor geral da antiga Escola Técnica Federal, caiu no ostracismo no segundo mandato do professor Luiz Augusto Caldas (sucessor de Roberto) e retomou as rédeas na gestão da então diretora Cibele Daher, feita reitora com a transição do Cefet a IFF. Todavia, a tentativa de adiamento das eleições nos campus Campos-Centro e Macaé, contrária a lei, provocou reações em estudantes, servidores e no próprio grupo da reitoria, que já perdeu dois pró-reitores, dois diretores e três coordenadores. Embora assuma discordâncias com o grupo dissidente, Caxinguelê diz que elas se limitam às suas visões sobre a educação como fim.

Já quanto ao grupo no poder, o presidente do Sinasefe denuncia a utilização do IFF como meio para se atingir um fim bem distinto: candidatura a deputado ou prefeito.

De Escola Técnica a IFF - A gente poderia fazer um apanhado, contar um pouquinho da história da escola. Hoje tem um grupo no poder, mas é o mesmo grupo que vem desde 94, e quem está à frente no projeto é a professora Cibele. Esse grupo defende muito a democracia, mas, na minha concepção, uma democracia muito relativa. Em 1994 (na eleição do professor Roberto Moraes para diretor da então Escola Técnica Federal de Campos, que passou a Cefet no fim de seu mandato de quatro anos, prorrogando-o por mais um) esse grupo chegou ao poder numa eleição em que os aposentados também votavam. Hoje, com a lei 11.892 (de 29 de dezembro de 2008, que passou os Cefet's para IF's), de fato os aposentados foram excluídos do processo eleitoral, mas em Campos, o Roberto Moraes já os havia tirado antes, desde 99, quando eu concorri com o Luiz Augusto. Em Goiás, o aposentado votou; no Colégio Pedro II, o aposentado votou; no Cefet Bahia, o aposentado votou. Então o aposentado votava. Não vou nem dizer que minha derrota foi em função de o aposentado não ter votado, mas o fato é que eles não deixaram o aposentado votar.

Projeto político-partidário - Esse grupo tem um projeto político. E a visibilidade dele, onde está? Dentro do Cefet (hoje IFF). É um projeto político-partidário, político-eleitoral, para uma candidatura, como já teve candidatura a deputado (estadual), que foi uma candidatura naufragada (em 2002), a do Roberto (Moraes), inclusive contra o (Antônio Carlos) Rangel (ambos do PT) e usando a estrutura da Escola Técnica, em termos de funcionários, pessoal da limpeza. O sindicato várias vezes denunciou isso, dentro da escola mesmo, cobrando. A própria ONG (Cidade) 21 (fundada e presidida por Roberto) funcionou muito tempo dentro da escola, quando nós fizemos uma denúncia também, no nosso jornal interno. Aí, a ONG saiu e depois funcionou em um prédio perto do Fórum.

Cisão de Luiz e Roberto - Luiz é um cara com visão exclusiva da educação, ao contrário do grupo que hoje está no poder, que tem uma preocupação política. No primeiro mandato de Luiz, eles ainda caminhavam juntos, mas a partir do segundo mandato, esse grupo foi excluído. O Luiz tem uma visão exclusiva de educação. Tanto é que pela competência dele foi convidado para estar no MEC (como diretor de Políticas da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, do ministério da Educação). Roberto tentou à época, para secretaria de Ensino Médio e Tecnológico (hoje Setec, secretaria de Educação Profissional e Tecnológica), junto ao Jorge Bittar (deputado federal, hoje licenciado para a secretaria municipal de Habitação do Rio), e não conseguiu. O Luiz chegou lá pelos méritos dele, sem fazer política partidária. E aí, a partir do segundo mandato de Luiz, em 2003, esse grupo (de Roberto) ficou à parte da escola. Antes e depois da lei 11.892 - Ainda quando estava sendo elaborado o ante-projeto da ifetização, antes de sair a lei, a Cibele, com alguns outros diretores de Cefet (que passariam a reitores com a promulgação da lei), tentaram que não houvesse eleição para diretor dos campus, que fosse indicação do reitor. Ela queria, depois de reitora, indicar os diretores do campus Campos-Centro e do campus Macaé.

Macaé - Em Macaé houve um agravante, já que o mandato do diretor terminou em julho de 2008. Eles teriam que fazer eleição e não foi feita. Depois de muita pressão da comunidade marcou-se a eleição pra 29 de abril de 2009. E aí, depois de marcada, acabou não havendo, por causa de um ofício circular (entre a cópia do documento do Setec, assinado pelo secretário Eliezer Moreira Pacheco) e lá, na última folha, ele diz que as eleições serão realizadas após a aprovação do estatuto.

Macaé em Brasília - Nós, do Sinasefe, no dia 14 de abril, protocolamos um documento (entrega também a cópia deste documento) perguntando ao Setec sobre as eleições gerais para diretor, se teria que esperar a aprovação do estatuto. Não tivemos essa resposta ainda. Mas na terça-feira, dia 5, nós conseguimos uma audiência com Eliezer Carvalho (secretário do Setec), com a professora Nelma Ferreira, do campus Macaé. Ela levou um documento da comunidade, exigindo eleições lá para diretor geral. Ela viajou com a gente pra Brasília, para um encontro do Sinasefe, nos dias 1, 2 e 3. Nós voltamos no dia 3 e ela ficou. E essa audiência foi na terça-feira, dia 5, às 9h30, lá no MEC. E aí, o professor Eliezer falou para ela que essa eleição poderia ter ocorrido no ano passado, já que o mandato expirou em julho de 2008. Então, queremos saber porque ela (Cibele) não marcou. Mas o Eliezer garantiu à professora Nelma que, a partir do dia 29 de junho, quando terminam os 180 dias (estipulados na lei 11.892, para discussão e elaboração do estatuto e do PDI, Plano de Desenvolvimento Institucional), a Cibele terá que marcar a eleição.

Pressão em Campos - Em Campos, não foi marcado ainda. E aí, depois que o professor Luiz veio aqui em Campos, da entrevista à Folha, do sindicato cobrando as eleições, dos alunos cobrando as eleições, das faixas espalhadas pela escola, eles ficaram acuados.

Proposta de estatuto - Em relação a nós, a posição da seção local do Sinasefe é uma posição do sindicato nacional. Nós cobramos eleições em todos os Institutos Federais, bem co-mo a participação do sindicato na elaboração do estatuto dos PDI's. Nós já fizemos nos dias 27, 28 e 29 de março um estudo na seção Campos. mas várias seções têm. O sinasef nacional nos convocou e reuniu em Brasília, como GT (grupo de trabalho) de política educacional, nos dias 27, 28 e 29 de março. Tinham 15 seções, que representaram nosso sindicato, composto por 65 seções. E nós trabalhamos em cima de um documento feito pelo próprio Conselho de diretores dos Cefet’s. Em cima, trabalhamos nesse documento, excluímos algumas coisas, colocamos algumas outras e elaboramos nossa proposta do estatuto. Algumas escolas já têm esse estatuto praticamente pronto. É o caso de Florianópolis, Pelotas, Salvador, Natal. E a nossa discussão coletiva deve começar só agora, a partir do dia 12 de maio, na terça-feira que vem.

Coincidência? - Estou achando muita coincidência que tenham nos convidado (o Sinasefe) para compor a comissão de discussão do estatuto só no dia 28, dois dias após a entrevista do Luiz Augusto, se nós já tínhamos cobrado essa mesma discussão desde o dia 9 de março, em ofício enviado à reitoria, sem contar as faixas que colocamos na escola, cobrando as eleições diretas, numa campanha que o grêmio estudantil também lançou desde o dia 7 de abril. Nós estamos cobrando essa eleição, em Campos e Macaé, como um princípio democrático.

Conquista democrática - A eleição direta foi uma conquista do Sinasefe, desde o Luciano (D'Ângelo), em 85, ainda sob a presidência do general Figueiredo. Na época existia um conselho técnico consultivo, que mandava uma lista tríplice para Brasília escolher. Nós conseguimos mudar isso quando ainda vivíamos na ditadura e a eleição não estava na lei. Agora está na lei. É obrigatório.

Nota oficial de Cibele - No nosso entender, a nota oficial (do IFF, em resposta à entrevista do professor Luiz Augusto) foi assinada por ela (Cibele), mas foi feita por vários nomes do grupo que hoje detém o poder na escola. É o grupo do Roberto Moraes, do Nélson Crespo, o grupo que voltou ao poder agora. A partir do segundo mandato de Luiz Augusto, eles estavam no ostracismo e agora voltaram ao poder com a professora Cibele.
Adiamento das eleições - É um jogo de palavras. O professor Jefferson (Azevedo) diz e escreveu isso numa carta aberta à comunidade, que Cibele falou em adiamento por três anos, na reunião com os pró-reitores, em 30 de março. Na nota oficial que ela assinou, em 28 de abril, Cibele diz que nunca disse isso. Jefferson e seu grupo afirmam uma coisa, Cibele e seu grupo repetem outra. Nós não temos como saber. O que nós podemos dizer, com certeza, é que ela tentou primeiro que a eleição para diretor geral da escola fosse coincidente com a própria eleição do reitor. Foi o primeiro passo dela. E aí começou a pressão daqui, pressão dali. Em reunião de coordenador, em reunião dos pró-reitores, ela colocou que iria postergar essa eleição enquanto fosse possível. Ela tentou isso, ela falou isso na reunião dos coordenadores, que ela ia tentar postergar, que não sabia quando ia fazer eleição na escola. E aí é o que eu estou dizendo, da democracia relativa que eles têm. Como ficou a ficar mal, agora ela está pregando eleição, mas em nenhum momento ela tentou fazer eleição na escola.

Racha - A insatisfação com as tentativas de se adiar as eleições acabou gerando um racha no grupo da reitoria. Saiu o Jéferson (que, na polêmica reunião do dia 30, entregou o cargo de pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação), saiu o professor Vicente (Santos, da direção da Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental), saiu a Carla (Patrão, da direção de Trabalho e Extensão do campus Campos-Centro), saiu a Vera Raimunda (Assef, da coordenadoria de Pós-Graduação), saiu a Arilise (Moraes de Almeida Lopes, da coordenadoria de Ensino à Distância) saiu a Maria Amélia (Ayd, da chefia de edição da Essentia Editora) saiu a Edinalda (Almeida, da revisão da Essentia Editora), e agora, mais recentemente, saiu o professor Amaro Falquer (da pró-reitoria de Administração e Planejamento), uma figura emblemática da escola, que estava no grupo deles desde a eleição do Roberto Moraes, em 94. Para sair tanta gente, alguma coisa houve.

Roupa suja - Na carta assinada pela Cibele, eles reclamaram que questões internas do IFF estivessem sendo discutidas publicamente. Eu discordo, acho benéfico, até porque, enquanto Escola Técnica, depois Cefet e agora IFF, a instituição sempre foi pública. A discussão tem que sair dos muros da escola, a comunidade tem que saber. Quando interessa a eles, o discurso é para toda a comunidade. E aí, de repente, não quer mais ouvir a comunidade? Tem que saber o que se passa lá dentro. A democracia não pode ser relativa como eles querem. Eu acho que tem que lavar a roupa suja, sim. É a minha opinião, não é nem uma posição do sindicato.

Diferenças - Esse grupo que está no poder, foi fácil apoiar a Cibele, porque eles vão manobrar a Cibele. Cibele é fácil de ser manobrada por eles. E aí, na nossa visão, por que houve o racha ali? Porque o grupo de Jefferson, de Luiz Augusto; não vou nem dizer grupo; Luiz Augusto, Jéfferson, algumas pessoas, eles pensam a educação. Eu estou dizendo, eu tenho pontos divergentes deles, mas a respeito de educação. O outro grupo tem um projeto político, de eleição para deputado, eleição para prefeito. E a visibilidade que eles têm é via IFF. Hoje tem o campus Cabo Frio, o campus Macaé, o campus Bom Jesus do Norte, campus Guarus, campus Itaperuna. Para quem tem um projeto político, você quer visibilidade maior?

Limites éticos - Eu não sou contra você aspirar um cargo público, de maneira alguma. Sou contra você pegar a estrutura de uma escola para fazer isso. Eu acho que quem faz educação tem que ser ético. Eu defendo educação com ética. Eu sou professor, levei 30 anos trabalhando no Cefet. Acho que quem faz educação, seja lá onde for, tem que trabalhar com ética. Se eu tenho algum projeto, não posso misturar com a educação. Você pode até, amanhã, amanhã, com um projeto feliz na educação, galgar um cargo fora da escola e se eleger tranquilamente.

No voto - Depois que o Setec bateu o martelo em relação à eleição de Macaé, na reunião com a professora Nelma, por que o grupo da reitoria não faz a mesma coisa com Campos, antes que seja obrigada a fazer, por Brasília? Na entrevista, falando em nome do MEC, o Luiz Augusto já bateu o martelo para a eleição no ano de 2009, mas por que esperar? Pela lei 11.892, o prazo para elaboração do estatuto e do PDI não termina em 29 de junho? Por que não marcam logo a eleição? A quem interessa esperar mais, depois que tanto tempo já foi perdido, desde dezembro de 2008, quando a discussão poderia ter começado? Não dá mais tapar o sol com a peneira. Não vai haver mais indicação de amigos do rei ou adiamentos. Agora é no voto.

Aluysio Abreu Barbosa - aluysio@fmanha.com.br
10/05/2009

Fonte Jornal Folha da Manhã: www.fmanha.com.br

2 comentários:

Unknown disse...

legalzão seu blog. Menina, você é uma subversiva,kkkkkkk!
Quanto tempo não ouço isso!
Parabéns e continue lutando...

Anônimo disse...

Quanta besteira! Só podia ser esse Caxinguelê. O cara foi meu professor e não dava aula, só falava de política e queria ser diretor do Cefet nunca conseguiu nada. Isto é papo de invejoso!