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18 de mai. de 2009

Engenhos centrais e usinas coexistiram no norte-fluminense

Usina Paraíso 1950

O município de Campos dos Goytacazes só contou com um engenho central, o engenho central Paraíso (atual Usina Paraíso) não significa que este município estivesse atrasado no que tange a modernização de unidades fabris. Ao contrário, o que se observa nessa região é que os antigos engenhos foram modernizados e novos engenhos também foram criados ao longo dos anos 1880, mas só que de forma independente da política de engenhos centrais, até porque seria impossível que a maior cidade produtora de açúcar do estado do Rio de Janeiro, escapasse a magia da modernização. Essa modernização de forma independente só foi possível pela política implementada a época de isenção de tarifas alfandegárias a produtos destinados à construção de estradas de ferro, oficinas e fábricas.

A cidade de Campos dos Goytacazes, foi a primeira do Brasil a possuir uma usina de açúcar particular, ou seja sem a concessão de benefícios oferecida pelo governo na política de engenhos centrais. A Usina do Limão, reestruturou-se em 1877 e entrou em funcionamento em 1879, propriedade do empresário João José Nunes de Carvalho. Este fazendeiro empreendedor montou de forma particular a usina, na fazenda do Limão que herdou de seu pai, com maquinários importados da empresa francesa, Casa Cail.

A época da fundação da Usina do Limão, o evento repercutiu nacionalmente, a ponto do imperador D. Pedro II oferecer ao empresário campista título de nobre, que José Nunes recusou alegando ser avesso a honras e distinções.

A Usina do Limão não existe nos dias de hoje. Foi levada a hasta pública e adquirida pelo Cel. Francisco Ribeiro de Vasconcelos, que foi proprietário de outras usinas em Campos, demolida e seus maquinismos transferido para Carapebus, que na época era uma região pertencente ao município de Macaé; onde o proprietário montou uma nova usina.

No ano de 1880 seria criada mais uma usina de açúcar na cidade, a Usina do Queimado, pelo comendador Julião Ribeiro de Castro, com maquinários ingleses importados.

Segundo a historiadora Sheila de Castro Faria, que estudou a história dessa usina, diversos fazendeiros, antigos escravagistas, estavam arruinados nessa época, sobretudo uma década à frente da criação da usina, pela abolição da escravidão.
Em 1906, Vicente de Miranda Nogueira adquiriu a Usina do Queimado. Nessa época seria muito improvável que um descendente de fazendeiro escravagista, como Vicente que era neto do Barão de São José (José Inácio da Silva Pinto), e sobrinho do Barão de Miranda (Júlio de Miranda e Silva), conseguisse permanecer como grande produtor de açúcar na região, mas como ressalta a professora Sheila, havia uma “brecha” para o enriquecimento:

“Parece-nos, portanto, que a prática de empréstimos a juros foi o principal meio de enriquecimento de muitos poderosos da época, como era o caso de Vicente Nogueira, já que possuía grande número de contratos de dívida com hipoteca, e era um dos que fornecia os maiores valores.”

Os descendentes de Vicente de Nogueira foram proprietários da Usina do Queimado até o nosso século, e a usina funcionava mesmo considerada de pequeno porte. Atualmente o setor fabril da Usina do Queimado foi transformada em casa noturna, mas sua arquitetura permanece como herança através dos tempos.
Outras usinas foram criadas em Campos dos Goytacazes após a fundação da Usina do Queimado,

[...] a Usina São José, cujos maquinismos receberam bênção em 9 de julho de 1883, a Usina São João, inaugurada em 24 de junho de 1884 pelos srs. tte. Cel. Francisco Antonio Pereira Lima e major Manoel Manhães Moreira; a Usina de Santa Cruz, de propriedade do barão de Miranda, inaugurada em 4 de agosto de 1884; a Usina do Outeiro, de propriedade do Dr. Rodrigues Peixoto; e a Usina de Sapucaia, pertencente ao visconde de Santa Rita, que entrou em funcionamento também em 1884.”

O escritor João Oscar (1985, p. 185), ressalta em sua obra um aspecto interessante da época, o fato de que muitos engenhos centrais, que eram criados com concessão e favores governamentais, serem chamados como já foi exemplificado neste artigo de uzina ou usina, enquanto muitas usinas, que eram criadas de forma independente e particular sem auxilio governamental, eram chamadas de engenhos centrais. Daí a dificuldade de se diferenciar as usinas de engenhos centrais e também de estabelecê-las no tempo

No caso da região norte-fluminense, os engenhos centrais coexistiram com as usinas, e como já foi explicitado no caso fluminense existiu até mesmo uma preferência pela modernização paulatina, independente do governo, do que o próprio estabelecimento de engenhos centrais. Acredita-se que esse fato se deva a realidade então vigente na região, da pequena propriedade, onde os antigos senhores de engenho, acostumados a moer canas próprias, não viram com bons olhos a política de estabelecimento de engenhos centrais, uma vez que em seus quesitos legais, inicialmente se propunha que esta unidade fabril não deveria possuir canas próprias para moer e sim adquiri-las de terceiros, entretanto, na prática essa medida legal não foi seguida à risca.

Este texto é um fragmaneto de minha monografia de graduação: “Engenhos centrais e usinas no norte-fluminense 1877-1910.”
Obras citadas:
OSCAR, João. Escravidão & Engenhos: Campos, São João da Barra, Macaé e São Fidelis. Rio de Janeiro: Achiamé, 1985, p.194-195.
FARIA, Sheila de Castro. Terra e trabalho em Campos dos Goytacazes (1850-1920). RJ: Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1986, p. 464. (Dissertação de Mestrado).

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